Gota D’Aya: um oásis nos Lençóis Maranhenses

Por Pingo Mattar 

A proposta é ir além do turismo de contemplação e descanso, oferecendo aos hóspedes uma imersão completa em atividades que conectam corpo, mente e natureza.

20 de ago. de 2025

Entre as dunas e lagoas dos Lençóis Maranhenses, a Gota D’Aya nasceu como um projeto que une espiritualidade, sofisticação e natureza. Idealizada por Pingo Mattar, a pousada em Atins foi concebida a partir de um encantamento pessoal que rapidamente se transformou em missão: revelar ao mundo a magia de um deserto cheio d’água.

“Sempre tive na minha bucket list conhecer todos os desertos do mundo. Para mim, são as paisagens mais fascinantes: silenciosas e calmas, mas também cheias de mistério e movimento, paradoxais — quentes e frias, simples e abundantes. Em 2018, organizei uma viagem de amigas para Atins. Elas não sabiam para onde estavam indo, muito menos o que esperar. Eu, cheia de expectativas, fui surpreendida. Foi desse encantamento que nasceu a Gota D’Aya: da vontade de partilhar a magia de um lugar que parece impossível.”

O refúgio entre simplicidade e sofisticação

A essência da Gota D’Aya está em ser refúgio e estímulo ao mesmo tempo. O projeto arquitetônico nasceu do desejo de unir a simplicidade da natureza local a um design sofisticado, celebrando a autenticidade de Atins enquanto abre espaço para inovação estética e tecnológica.

“Isso significa que pode aparecer uma perereca no seu banheiro, sedenta pela água limpinha tratada pelo nosso sistema de filtragem, ou até um inseto na cama, curtindo a roupa de cama Trousseau 100% algodão”, comenta Pingo, lembrando que luxo e natureza coexistem sem filtros.

Inspirada nos quatro elementos — fogo, água, vento e terra —, a pousada se propõe a oferecer uma experiência completa. Yoga ao nascer do sol, kitesurf nas águas de Atins, passeios pelos Lençóis e atividades espirituais compõem a curadoria que vai além do turismo contemplativo.

Gastronomia 

A gastronomia, hoje assinada em parceria com o hotel Oiá, de Santo Amaro, é outro eixo central. O próximo passo será a criação de uma horta própria para garantir frescor e autonomia em um cenário onde a logística é desafiadora.

Sustentabilidade também guia o projeto: a pousada planeja operar 100% com energia solar e já desenvolve sistemas de reciclagem orgânica para abastecer a horta. “Queremos ser exemplo de autossuficiência em um destino remoto, inspirando turistas e moradores”, explica Pingo.

Desafios e conquistas

Erguer um empreendimento desse porte em uma vila de pescadores não foi simples. A ausência de CEP, o transporte por balsas e tratores, o alto custo de materiais e a adaptação da mão de obra local exigiram paciência e persistência.

Apesar disso, o lançamento da Gota D’Aya coincidiu com sinais que confirmaram a intuição de Pingo. Poucos dias após a inauguração, os Lençóis Maranhenses foram declarados Patrimônio da Humanidade pela UNESCO — um marco que reforçou a relevância do território escolhido.

Outro ponto decisivo veio do Oiá, hotel mais exclusivo dos Lençóis. A equipe buscou a pousada para estabelecer uma parceria em Atins, reconhecendo que o padrão da Gota D’Aya era o único alinhado ao nível de excelência que ofereciam. Para Pingo, a validação trouxe não apenas reconhecimento, mas também a certeza de que o potencial de Atins era maior do que muitos acreditavam.

Próximos passos: um modelo para a hospitalidade brasileira

O foco agora é consolidar bases sólidas. A Gota D’Aya ainda está no início e segue em aprendizado contínuo. Operar em um local remoto, em um estado com o menor IDH do país, traz desafios únicos que transformam o trabalho em verdadeira missão.

Mais do que um destino, a pousada quer se tornar um modelo de hospitalidade no Brasil: aliar ecoturismo, alto padrão e preservação cultural. “Queremos mostrar que é possível inovar e enaltecer o Brasil por meio de um turismo consciente, respeitoso e integrado à natureza”, afirma a fundadora. No futuro, a intenção é, se possível, replicar o formato em outras localidades paradisíacas e pouco exploradas.

A Gota D’Aya representa, para Pingo, a materialização da sua jornada de vida. “Sempre me vi como um elo entre universos distintos. É o meu grito pessoal, um pleito para unir o que parece distante, conectar o que se separou, derrubar barreiras e desafiar limites imaginados por falta de visão holística do mundo. Quero provar que contraste não é conflito: é harmonia’’.