Império do açaí: como a Oakberry se tornou um fenômeno global

Por Georgios Frangulis

Nesta entrevista exclusiva, Frangulis compartilha os bastidores da ascensão da Oakberry, os aprendizados e os planos para ultrapassar 1.000 unidades até o fim de 2025.

1 de jul. de 2025

Quando Georgios Frangulis fundou a Oakberry Açaí em 2016, ainda era improvável que um copo de açaí pudesse se tornar o novo símbolo de um estilo de vida saudável. Hoje, com mais de 800 lojas espalhadas por 45 países, a marca brasileira se firmou como a maior rede de açaí do mundo, servindo mais de 20 milhões de copos por ano, o equivalente a cerca de 8 milhões de litros da fruta amazônica.

Inspiração 

Formado em Direito, Frangulis nunca chegou a exercer a advocacia. Foi na Califórnia, ainda na juventude, que percebeu uma movimentação crescente por produtos saudáveis, onde o açaí começava a ganhar espaço, mesmo que de forma tímida. “A alimentação saudável já não era mais uma tendência; era o novo normal. Os lugares que vendiam açaí nos EUA tinham fila na porta. Havia ali um sinal claro de oportunidade”, relembra.

De volta ao Brasil, começou a desenhar o projeto do zero, tendo como inspiração a rede Starbucks. “Eles criaram um senso de comunidade. As pessoas vão à loja sem necessariamente saber o que vão comprar. Virou hábito. É essa fidelização que a gente quis traduzir no universo do açaí.”

O modelo que conquistou o mundo

A proposta era simples, mas ambiciosa: transformar o açaí em um produto grab and go, com padrão de qualidade consistente e operação eficiente. O resultado foi um crescimento avassalador. Em menos de dez anos, a Oakberry alcançou presença em mais de 45 países, com destaque para Estados Unidos, Austrália, Espanha e Emirados Árabes.

“O mercado americano é o mais competitivo do mundo, e por isso decidimos operar com lojas próprias por lá. Hoje são quase 60 unidades nos EUA, das quais 48 são nossas”, explica Frangulis. “Foi lá que a ideia nasceu, e é lá que continuamos aprendendo diariamente.”

A Oakberry não apenas vende açaí. Ela exporta uma narrativa sofisticada, embalada por um branding forte, padronização e um apelo estético. A identidade visual é limpa, moderna, e conversa diretamente com o público que pretende atingir.

A marca também aposta na diversificação de canais. Além das lojas físicas, investe em produtos para supermercados, como sorbets, granolas e barras proteicas, sem perder o foco na operação principal. Cada ponto de venda, aliás, é tratado como vitrine da marca: da playlist aos uniformes, tudo segue um manual preciso.

Recepção inicial: a novidade em um mercado saturado

Desde os primeiros dias de operação, a Oakberry foi recebida com entusiasmo. Em um cenário em que o açaí havia se tornado um produto banalizado no Brasil, a proposta de Frangulis era resgatar o desejo por meio de uma marca aspiracional, cool e confiável. “O objetivo era fazer com que as pessoas fossem pela marca, e não apenas pelo açaí. Criamos algo sexy, com identidade forte, e entregamos um produto superior”, conta. A introdução de copos maiores e um ticket médio mais alto fazia parte da estratégia: a experiência deveria equivaler a uma refeição completa, não a um lanche improvisado.

Perfil de consumo

Hoje, o valor médio gasto por cliente varia de acordo com o país, mas no Brasil gira em torno de R$ 34. A Suiça possui o copo de açai mais caro de todos, que custa em torno de R$ 80.

A variação internacional é natural, considerando fatores cambiais e hábitos alimentares locais. Ainda assim, o padrão permanece: porção generosa, preparo rápido e uma base fiel de consumidores que enxergam o produto como parte de um estilo de vida. 

Os bastidores da fruta amazônica

Escalar uma marca global baseada em um insumo altamente perecível exigiu mais do que ambição: exigiu controle. Desde cedo, a Oakberry entendeu que depender de terceiros para o fornecimento do açaí seria um risco estratégico. “O maior desafio foi perceber que, para crescer na velocidade que imaginávamos, precisaríamos ter controle total da cadeia”, afirma Frangulis. A solução foi a verticalização.

A empresa montou sua própria fábrica e firmou parcerias diretas com cooperativas no Pará, o que garantiu não apenas qualidade e rastreabilidade, mas também uma operação sustentável. “Quando você mesmo fabrica, tem domínio sobre tudo, do frescor da fruta à entrega nos freezers das lojas, em qualquer parte do mundo.”

Significado por trás do nome

"Oakberry" é uma combinação inusitada. "Oak" (carvalho) é uma árvore que não dá frutos, enquanto "berry" significa fruta pequena. A marca foi pensada para soar internacional e memorável, com fonética fácil e identidade visual forte. 

Marca global de alma brasileira

Levar o açaí a mercados onde muitos consumidores nem sabem o que ele é exige criatividade e adaptação. Por isso, a Oakberry investe bastante em branding internacional: patrocínio a equipes de Fórmula 1, parcerias com atletas de elite, e presença em eventos culturais e esportivos.

“Em cada país, ajustamos a comunicação sem abrir mão da essência. O desafio é educar o consumidor e, ao mesmo tempo, inserir o açaí na rotina dele. E isso nós fazemos com consistência e narrativa”, resume o fundador.

BTG Pactual e os próximos passos

A Oakberry concluiu uma rodada de investimento liderada pelo BTG Pactual, que aportou R$ 325 milhões e passou a deter uma participação minoritária na companhia. A decisão de trazer um investidor institucional foi estratégica: além do capital, o banco oferece estrutura e conexões para acelerar a expansão global.

“A parceria com o BTG reforça nossa capacidade de execução. Vamos usar esses recursos para abrir novas lojas, aprimorar a cadeia de suprimentos e fortalecer a marca em mercados-chave”, afirma Frangulis.

A meta é clara: terminar 2025 com mais de mil unidades. A Ásia desponta como novo foco de expansão, especialmente China e Coreia do Sul, enquanto a Europa e os EUA continuam em fase de consolidação. O sonho, como o fundador costuma dizer, é que a Oakberry se torne "a maior marca de alimentação saudável do planeta".